Sempre tive
dificuldades em aceitar a rupturas, a do Capri é uma das quais ainda não
acredito que aconteceu. Quando vou na FDR ainda passo pelo corredor da cantina
procurando ver se acho o Capri, era minha rotina quando estudava. De longe eu
ouvia seu grito: “Na medida? É a lei”. Pronto, meu sorriso se abria, e o papo
sobre qualquer coisa banal começava. Durante cinco anos frequentei aquela
cantina não como consumidor, mas como confidente, amigo e até parceiro de
alguns negócios como o teatro e o filme. Sei lá, eu gostava daquele sujeito
enigmático pra caramba.
Embora tivesse
convivido com ele tanto tempo, principalmente quando eu matava aula para ir na
cantina conversar, muitas coisas eu não sei dele ou sei, mas eu prefiro deixar
como um ar mitológico para outras pessoas. Lembro de várias conversas, lembro
de várias piadas e dos conselhos que ele me dava sobre arte e a vida. Ah capri,
deixasse-nos de forma tão abrupta e inesperada, deixasse um vazio naquela FDR
já tão vazia, deixasse milhares de pessoas órfãs de um amigo, parceiro e acima
de tudo, de um ser humano da melhor qualidade. Temos a certeza que será difícil
conhecer um sujeito simples, porém gigante como você e que falta fará para
aquele prédio. Todos os que saem da FDR após formados, quando voltam para
visitar ficam com a sensação que sempre
iriam te encontrar ali atrás do balcão para conversar sobre qualquer coisa do
passado ou da vida “daquela época”. E agora?
Agora eu
carrego alguns arrependimentos: o de não ter ido na véspera, no dia 09 de julho
na FDR fazer uma visita; de não ter conversado mais nas últimas vezes que vi e
acima de tudo, de não ter tirado uma foto para guardar na memória. A morte te
pegou de surpresa, amigo, e deixou-nos um vácuo no coração e na alma.
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