sábado, 5 de abril de 2014

Como "se faz" um grande ator?


Foi com pesar que recebi a notícia do falecimento de José Wilker, um grande ator. Observei nas redes sociais o pesar de muita gente, e todos associavam a ele este adjetivo: UM GRANDE ATOR!
Mas por quê?
José Wilker é de uma safra de atores que nasceu no teatro e depois foi para a televisão e o cinema, aprendeu a atuar para impressionar e convencer e não simplesmente por ser bonitinho e "pegador". As novelas atuais, de um modo geral, seguem o folhetim romanesco, mas além disso, adotam estereótipos que estão longe da realidade brasileira e artística. O galã, a mocinha e a vilã são, no geral, pessoas bonitinhas, que estão na moda e que foram criadas na televisão, onde a escola que tiveram é no mínimo "malhação", não tendo enfrentado, muitas vezes, a vivência dos palcos.
José é de outro tempo, assim como Antônio Fagundes, Paulo Autran, Lima Duarte, Marrco Nanini  entre outros que viveram  no teatro. Construíram seus estilos nos palcos e usavam a televisão e o cinema como forma de se projetar, de serem conhecidos e reconhecidos, para trazer gente para a sua peça. Certa vez, disse Antônio Fagundes que  fazia novela apenas para ter público nas suas peças. Muitos desses atores que estão surgindo não viveram o teatro, não se construíram, foram projetados para serem galãs e dessa projeção é que vivem. Podem observar que muitos que fazem apenas novela não são bons fazendo filme e teatro. Agora quem nasceu no teatro consegue ir muito bem na novela e nos filmes. Na novela você repete mil vezes uma cena, o personagem é construído para agradar e dar audiência, no teatro cada cena é única, cada platéia é única e embora ensaiado mil vezes, na hora da apresentação, se houver uma falha, ele não vai poder repetir, vai ter que improvisar.

E é essa improvisação, essa capacidade de se recriar e de viver a personagem que diferencia os bons dos maus atores. José foi bom, gênio e singular. Você via um personagem dele e se convencia que ele existia. Você olha para a carreira dele e percebe que cada um tem um estilo diferente, uma entonação, uma vida. São únicos como o seu criador. Enfim, "agora vocês me dão licença que eu vou cagar".