sábado, 26 de setembro de 2015

O fim dos abraços


O dia é especial, a pessoa senta-se, pega o celular, pensa um pouco e manda uma “linda” mensagem para seu/sua melhor amiga/amigo no grupo de amigos em comum e pronto. Fez sua parte. A alma livre e dever cumprido. Os outros amigos/amigas copiam aquela mensagem e repassam os pedidos de parabéns e felicidades feitos pela primeira pessoa. O sujeito nem mentaliza a mensagem, nem reflete, muito menos pensa na pessoa que irá receber. Apenas viu as palavras “parabéns” e o nome “fulana”, e pronto, repassou e se livrou da “obrigação” moral de parabenizar o outro. Sim, obrigação moral. Nos tempos de redes sociais e grupos, nunca se relacionou tanto!?
Pode parecer paradoxal, mas a distância não existe, o tempo, que parecia infinito, agora se reduz a segundos. Mas o relacionamento virtual não chega nem perto do relacionamento físico. Você não vê a pessoa, você vê uma foto (em geral bonita) selecionada por ela para representar sua imagem. Você vê uma projeção da pessoa.
Você lê palavras, estas que no formato digital tentam reproduzir o sentimento da pessoa que está transmitindo letras abreviadas no “tc” do celular, ou “touch”. Não, não há amor e nem poesia. Pior ainda são os relacionamentos onde toda a conversa diária é pautada na janelinha do “zap zap”. Mais fácil, mais próximo, contato indireto, áudios mandados e respondidos com “eu te amo” mecânico.
Estamos vivendo, nos relacionando e amando sem abraços, sem contatos físicos e acreditamos estar mais próximos uns dos outros por causa da facilidade do mundo virtual. Ele traz essa sensação de completude e de preenchimento, mas nada é mais vazio que uma pessoa no seu quarto, com seu ar, mandando mensagens tarde da noite a seus amigos que estão em algum lugar apenas lendo, sabe-se lá em que canto da casa, e com que cara respondendo. Isso é relacionamento ou amizade.
O abraço era algo essencial de demonstração de carinho e afeição pela pessoa. Hoje ainda é, e digamos, que mais raro que nota de 1 real. Mandar parabéns é uma obrigação virtual. “Como assim você não lembrou? O face não te avisou?” E sentimo-nos coagidos a mandar parabéns ali, pela timeline da pessoa... Parabéns secos, os mais completinhos com “parabéns e muitas felicidades”. Quando são “melhores” amigos/amigas, os textos são grandes e com curiosidades. Limpam a alma após mandar e sentem-se no dever cumprido de preservar aquela amizade virtual. E quem recebe sente-se amado, lembrado, desejado, procurado, em resumo, feliz por ter lido palavras naquela telinha na palma de sua mão. E sem levantar a cabeça ele não percebe a falsa sensação de lembrança.
O “face” lembra os amigos de sua data, claro tecnologia é para nos ajudar. E caso não vejam no face existem os grupos do “zap zap” para lembrar os que não viram, ou não percebem o aniversário do “felizardo”. Parabéns! Manda um. Parabéns (2) parabéns(3) parabéns (4) mandam os demais. E de parabéns em parabéns vamos ficando com menos abraços, menos afeto, menos pele.
Será o fim do homem viver de parabéns na internet? Será o futuro pedir em casamento pelo “zap zap”? Será o futuro não tão distante, celebrar casamento pelo celular, sem beijo e sem abraço, e mesmo assim jurar amor eterno? Será o fim de todos nós, para evitar o olho no olho, o medo e o frio na barriga, terminar relacionamentos por áudios de 4 minutos explicando os motivos e logo em seguida bloqueando o “ex-amor” do zap? Acho que não, estou viajando demais.

À partir de hoje só desejo parabéns ao vivo, só desejo parabéns se puder abraçar e tocar. Não quero substituir por algorítmos de computador, nem vídeos de autoajuda o sentimento que tenho por aquela pessoa. A vida é muito grande para viver presa na tela de um celular, mas infelizmente temos pouco tempo e o celular tá ali para isso. Paradoxo!

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