O
dia é especial, a pessoa senta-se, pega o celular, pensa um pouco e manda uma “linda”
mensagem para seu/sua melhor amiga/amigo no grupo de amigos em comum e pronto.
Fez sua parte. A alma livre e dever cumprido. Os outros amigos/amigas copiam
aquela mensagem e repassam os pedidos de parabéns e felicidades feitos pela
primeira pessoa. O sujeito nem mentaliza a mensagem, nem reflete, muito menos
pensa na pessoa que irá receber. Apenas viu as palavras “parabéns” e o nome “fulana”,
e pronto, repassou e se livrou da “obrigação” moral de parabenizar o outro. Sim, obrigação moral. Nos tempos de redes sociais e grupos, nunca se relacionou
tanto!?
Pode
parecer paradoxal, mas a distância não existe, o tempo, que parecia infinito,
agora se reduz a segundos. Mas o relacionamento virtual não chega nem perto do
relacionamento físico. Você não vê a pessoa, você vê uma foto (em geral bonita)
selecionada por ela para representar sua imagem. Você vê uma projeção da
pessoa.
Você
lê palavras, estas que no formato digital tentam reproduzir o sentimento da
pessoa que está transmitindo letras abreviadas no “tc” do celular, ou “touch”. Não,
não há amor e nem poesia. Pior ainda são os relacionamentos onde toda a
conversa diária é pautada na janelinha do “zap zap”. Mais fácil, mais próximo,
contato indireto, áudios mandados e respondidos com “eu te amo” mecânico.
Estamos
vivendo, nos relacionando e amando sem abraços, sem contatos físicos e
acreditamos estar mais próximos uns dos outros por causa da facilidade do mundo
virtual. Ele traz essa sensação de completude e de preenchimento, mas nada é
mais vazio que uma pessoa no seu quarto, com seu ar, mandando mensagens tarde
da noite a seus amigos que estão em algum lugar apenas lendo, sabe-se lá em que
canto da casa, e com que cara respondendo. Isso é relacionamento ou amizade.
O
abraço era algo essencial de demonstração de carinho e afeição pela pessoa. Hoje
ainda é, e digamos, que mais raro que nota de 1 real. Mandar parabéns é uma
obrigação virtual. “Como assim você não lembrou? O face não te avisou?” E
sentimo-nos coagidos a mandar parabéns ali, pela timeline da pessoa... Parabéns
secos, os mais completinhos com “parabéns e muitas felicidades”. Quando são “melhores”
amigos/amigas, os textos são grandes e com curiosidades. Limpam a alma após
mandar e sentem-se no dever cumprido de preservar aquela amizade virtual. E quem
recebe sente-se amado, lembrado, desejado, procurado, em resumo, feliz por ter
lido palavras naquela telinha na palma de sua mão. E sem levantar a cabeça ele
não percebe a falsa sensação de lembrança.
O
“face” lembra os amigos de sua data, claro tecnologia é para nos ajudar. E caso
não vejam no face existem os grupos do “zap zap” para lembrar os que não viram,
ou não percebem o aniversário do “felizardo”. Parabéns! Manda um. Parabéns (2)
parabéns(3) parabéns (4) mandam os demais. E de parabéns em parabéns vamos
ficando com menos abraços, menos afeto, menos pele.
Será
o fim do homem viver de parabéns na internet? Será o futuro pedir em casamento
pelo “zap zap”? Será o futuro não tão distante, celebrar casamento pelo
celular, sem beijo e sem abraço, e mesmo assim jurar amor eterno? Será o fim de
todos nós, para evitar o olho no olho, o medo e o frio na barriga, terminar
relacionamentos por áudios de 4 minutos explicando os motivos e logo em seguida
bloqueando o “ex-amor” do zap? Acho que não, estou viajando demais.
À
partir de hoje só desejo parabéns ao vivo, só desejo parabéns se puder abraçar
e tocar. Não quero substituir por algorítmos de computador, nem vídeos de
autoajuda o sentimento que tenho por aquela pessoa. A vida é muito grande para
viver presa na tela de um celular, mas infelizmente temos pouco tempo e o
celular tá ali para isso. Paradoxo!
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