Quando
era estudante do ensino médio, estudei no colégio e curso especial. No primeiro
ano do ensino médio eu fazia questão de pegar ônibus para fazer retorno no
centro, pois a beleza do Recife para mim era algo novo e surreal. Eu, criado nas
periferias de Olinda, que agora morava num bairro quase nobre do Recife, que
mal conhecia a praça do Derby, ver a Cidade à noite era um sonho. Aquelas
pontes, aqueles postes, aquela luz suave da noite iluminando os prédios
históricos eram como um museu a céu aberto para mim. Sentia-me feliz quando
largava cedo e podia fazer o retorno no centro.
Neste
ano o palácio da Facvldade de Direito do Recife passava desapercebido por mim.
Não que eu não notasse sua beleza, mas eu o via como uma realidade distante,
como algo que só podia admirar de longe e jamais sonhar em conhecê-lo, muito
menos estudar ali.
Estudar
ali? Não, coisa distante demais. Lembro que certa vez num desses passeios dando
retorno na cidade, um dos passageiros comentou, Olha só, essa faculdade tem
mais carro que aluno.
Esta
frase, escutada aleatoriamente e certamente dita aleatoriamente, ficou na minha
cabeça por alguns anos como uma marca da distância de minha realidade.
Durante
o terceiro ano do ensino médio, tive a ousadia de sonhar de um dia entrar ali.
Ousadia sim, porque para mim, um garoto advindo dos subúrbios de Olinda entrar
ali, seja para visitar, seja para apenas olhar, parecia distante, quase
impossível. O palácio com sua beleza imponente impunha medo, respeito e desejo.
Comecei
a passar por ali e dizer mentalmente “eu vou estudar ali”.
Pronto,
o garoto suburbano de Olinda, agora morador de área quase nobre do Recife,
estava tendo a ousadia de sonhar. E o sonho se realizou um pouco depois. Fruto
de um cansaço mental e de uma dedicação que hoje sei que não foi apenas minha,
foi de um conjunto de fatores.
No
dia do resultado, lembro ter dito para,” finalmente vou entrar ali e saber o
que tem atrás daquelas grades”.
Hoje,
quase dois anos depois de formado, voltei para a faculdade para fazer mestrado,
o prédio não é o mesmo, estudo no anexo, carinhosamente chamado de “casa de
pombo”, mas só em estar perto daquele prédio que embora afaste muitos, e seja,
em parte tolhedor de sonhos, tem um magnetismo sobre mim incrível.
Hoje
o garoto que um dia sonhou em estudar ali, diz para si, um dia darei aula ali.
Pode parecer pouco para muitos, pode parecer fácil para outros, mas para mim
tem um sentimento diferente, soa como um sonho de um adolescente que cresceu distante
daquela faculdade, e que não vive mais longe dela.
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