sábado, 27 de dezembro de 2008

O CAPIBARIBE
Dezembro de 2008
“Estamos de volta e com muito mais charme”
Frase da edição: Um jornal com nome de rio, onde eu rio.



Entrevistas:
Entrevista com Da Maia

Por Andrezza Aquino3N e Marcos Cassimiro 3N

Nesta entrevista com o professor Alexandre Da Maia, procuramos relacionar a crise do Judiciário com os recentes escândalos envolvendo o banqueiro Daniel Dantas e o Ministro do STF, Gilmar Mendes.

1) Da Maia, diante da notória crise enfrentada pelo Poder Judiciário, como podemos vislumbrar a relação entre Ética e Direito, uma vez que a observância dos preceitos éticos, numa abordagem político-jurídica, constitui-se em fator legitimador das normas jurídicas?

Acho que essa é uma visão um tanto quanto romântica do que o direito é e pra quem ele serve. Além disso, não há uma uniformidade ou um padrão material para afirmar o que é eticamente bom ou não. O perigo de tal visão é cair num Leito de Procusto: a pessoa que julga se transforma na própria determinadora dos critérios a serem adotados como éticos ou não em seu julgamento. Assim, acredito que os referenciais morais e éticos na sociedade moderna são fluidos, o que gera ainda mais poder para o Judiciário, já que, hoje em dia, vivemos uma espécie de planificação de identidades por meio da afirmação de que a atuação do Judiciário funcionaria como uma espécie de “pacificador dos debates morais” ligados à aplicação do direito. E isso, claro, é bastante perigoso, sobretudo porque vivemos numa sociedade na qual não há critérios uniformes sobre o que é ético ou não, o que gera uma pluralidade de possibilidades cada vez mais contingente. Pra mim, essa contingência faz com que seja incompatível esse discurso de planificação moral, já que o que mais vemos na sociedade moderna é a diferença, e não a identidade.


2) Qual a sua opinião sobre o manifesto de repúdio feito pelas entidades de classe ligadas à carreira jurídica contra o Ministro Gilmar Mendes?

A discussão sobre a atuação do Judiciário, como de quaisquer outras instituições ligadas ao poder, é extremamente importante, porque já mostra que não há unanimidade na forma de lidar com o poder de decidir, e isso nos faz ver como um pensamento tradicional sobre o direito pode soar um tanto quanto capenga diante dessa multiplicidade de possibilidades. Esse embate político interno, que explicita a divergência que existe dentro do próprio Judiciário, mostra que a sua atuação também é política. É uma grande tolice imaginar que o Judiciário não decide também politicamente, e isso já está dito até por Kelsen, sobretudo no capítulo oitavo da Teoria pura do direito. Mas é claro que essa percepção da atuação política fica encoberta por argumentos de uma pretensa “justificação racional” das decisões do Judiciário, “justificação” essa que não passa de mais uma forma de crença. Mas é claro que isso só acontece porque o nosso Legislativo deixa um vácuo, permitindo que o Judiciário ocupe espaço. Isso mostra a sazonalidade do modelo de separação de poderes, que seria um dos pilares basilares do constitucionalismo moderno. Todavia, esse tão sonhado equilíbrio entre os poderes sempre esteve num ambiente circular: no Séc. XIX, e sobretudo no modelo francês, a razão estava na atividade legislativa, que criou o mito do legislador racional. Com as guerras e, no caso da América Latina, as ditaduras vividas durante o Séc. XX, o Executivo se fortalece de uma forma bastante contundente. Hoje, vivemos o fortalecimento do Judiciário, por meio de outro mito: o do juiz racional.


3) O prof. Dalmo de Abreu Dallari declarou que a indicação do Ministro Gilmar Mendes, como presidente do STF, representaria um sério risco à proteção dos direitos no Brasil, o combate à corrupção e a própria normalidade constitucional. A liberação, por habeas corpus, do banqueiro Daniel Dantas pelo Ministro ratificaria as críticas de Dallari?

Parece curioso perceber que as “garantias constitucionais” e os “direitos fundamentais”, sobretudo em um contexto de uma economia capitalista, se transformam em mercadorias: só se pode exercê-los se você puder pagar por eles: desde o plano de saúde a um bom advogado que é capaz, por sua expertise, de levar a demanda do seu cliente ao Supremo Tribunal Federal. Garanto que as demandas por direitos dos pobres e dos miseráveis jamais serão discutidas pelo STF. Além disso, fica parecendo que a fruição dos direitos fundamentais depende de uma expertise: o advogado competente e com boa formação é quem leva a demanda do cliente pra ser apreciada por outros que são tidos como competentes e com boa formação acadêmica. Não precisa ser muito inteligente pra perceber que isso distancia, e muito, a efetivação de direitos daqueles que mais precisam do Estado para que possam ter direito a ter direitos. E o caso Daniel Dantas reflete nitidamente como o sistema econômico está nas entranhas do poder, com direito a uma súmula vinculante e tudo mais em relação ao caso das algemas, o que mostra o que é o Estado de Direito no Brasil. Como disse Fábio Konder Comparato em entrevista recente ao programa Procovações, da TV Cultura: “não podemos servir a dois senhores ao mesmo tempo: ao povo e ao dinheiro”.


4) Gilmar Mendes foi nomeado por indicação de FHC, em 2002, assim como contou com grande mobilização tucana no Congresso para ser nomeado. Da Maia, como você analisa o fato de o referido Ministro, na véspera de tomar posse como presidente do STF, ter arquivado duas ações de improbidade administrativa contra dois ex-ministros do governo FHC: Pedro Malan e José Serra? De que maneira essa relação entre a política e o direito é positiva em um Estado Democrático?

Essa relação sempre existiu e acho que sempre vai existir. Muito embora não possa prever o futuro, sobretudo em uma sociedade tão plural, não há como deslocar o direito da política. Imaginar essa separação é querer idealizar um modelo de conhecimento construído por categorias que funcionariam como caixinhas fechadas, nas quais cada ramo do saber estaria confortavelmente guardado. Não acredito nisso. O Executivo, como sabemos, precisa transformar seu programa de governo e suas metas em direito, a fim de que possa ter um instrumento cogente (inclusive nas limitações impostas) para colocar em ação aquilo que foi proposto e escolhido pelas urnas. Pra isso, ele precisa do legislativo. E o Legislativo, claro, precisa que o Executivo para manter os nichos de poder local por meio da liberação das dotações orçamentárias. É um jogo que envolve política, economia e direito. O problema do Brasil está na falta de controle desses mecanismos político-jurídicos. Ou seja, o controle de pra onde foi o dinheiro e com o que ele foi gasto. Sem controle das despesas, torna-se muito difícil efetivar o Estado de Direito, já que, assim, ele se tornaria apenas uma série de promessas vãs, sem capacidade de execução, já que o dinheiro escorreu pelos dutos da corrupção e do clientelismo. Além disso, o financiamento privado de campanhas, da forma como se faz no Brasil, é a porta de entrada da corrupção. É por ai que as relações entre direito, política e economia deixam de ser “autopoiéticas”, como vemos em sala. Então, o problema não está na relação entre direito, política e economia, mas sim na forma como essa relação se dá, na qual os códigos do sistema jurídico são quebrados constantemente pelo econômico e pelo político.

5) Até que ponto a atuação da imprensa pode interferir nos julgamentos, visto que a solução de um caso pode ser contrária à opinião popular? Desta maneira, pode-se dizer que existem sérios prejuízos à crença nacional acerca da credibilidade da justiça?

Desde o advento dos mecanismos de comunicação em massa, imagina-se a “massa” como um sujeito uniforme, pautada por um querer universalizável, que poderia ser estruturada por mecanismos identitários tidos como “imprescindíveis” para todos. Isso mostra o imenso poder que a imprensa tem, sobretudo por conta da tentativa de criação de desejos que seriam universalizáveis para todos apenas porque ela diz que eles são assim. No Brasil, o problema se agrava porque os grandes conglomerados de informação pertencem a poucas famílias, e me parece bastante claro que a vontade dessas famílias é veiculada como a “vontade do povo”, a “voz do povo como voz de Deus”. Claro que, com o capitalismo, as grandes corporações, por meio dos patrocínios, terminam financiando essas grandes redes de comunicação, o que cria uma relação umbilical entre a imprensa, o poder econômico e o poder político. E nisso se inclui também a tentativa da venda de uma imagem universal do que é o justo, por meio de uma série de julgamentos morais que não são cabíveis em uma sociedade como a moderna, pautada pela diferença. Curioso é perceber que muitos dos setores que se dizem “esclarecidos” simplesmente aderem à opinião da imprensa de uma forma acrítica, apenas porque o jornal tal ou qual veiculou a notícia. Cria-se um ar de objetividade e, conseqüentemente, uma verdade na notícia. O mesmo acontece com o direito: ao imaginar uma pretensa objetividade jurídica, imagina-se um direito “melhor”, com uma atividade decisória “neutra” etc. São mitos e crenças de um modelo moderno de pensar a sociedade e, por conseguinte, o direito: por meio de uma planificação de identidades (“nação”, “espírito do povo”, “vontade de Constituição”, “princípio da proporcionalidade”, “razão discursiva” etc.) que não é cabível pela diferença que é a marca da sociedade moderna.


Ao término da entrevista, o Recife já respondia melancolicamente com o ar das noites recifenses: o rio Capibaribe já emanava seu cheiro natural, a classe média chegando na rua da moeda e uns trombadinhas na esquina nos aguardavam....

Análises:

Crônica sobre o choro de um bebê aos berros
(No avião recife - belo horizonte, em meio a uma parada em salvador)

O choro de um bebê pode-nos mostrar, muitas vezes, a aflição, sofrimento e angustia de um ser humano, em toda sua humanidade (ainda nascente), ainda não reprimida pelas convenções e padrões sociais, tão próximo daqueles seres humanos em seus momentos de desespero extremo diante de sua existência. A cada berro seu, um berro longo e profundo, é um palpitar de sofrimento, vindo de suas entranhas. Assim, o choro de um bebê mostra sua aclamação pela libertação de sua situação que o oprime, a qual lhe incomoda, seja esta situação o estranhar do ambiente novo que ocupa, seja uma mão que tenta calar-lhe a boca.

Todos nós que nos dispomos a expelir o que refletimos sobre o mundo, em parte praticamos este grito, este choro, ao nos entregarmos nessas linhas, deixando aqui pairar nossas angustias, sentimentos. Não devemos nos acanhar, ficarmos presos, reprimidos, em escrever, expelir, essas idéias, no meio de cinco ou seis pessoas nos olhando, em meio a um lugar público, repleto de pudores. Temos que perder nosso pudor próprio, não temer nossos sentimentos, temos que ter um choro semelhante ao bebê que não tem medo de expressar seu sofrimento a cada berro seu mais profundo. Cada linha desta crônica e de outras deve ser um berro nosso.

Este mesmo berro, expressão de ânsia por se libertar de algo que tanto oprime, também não pode ser esquecido por aqueles e aquelas que são reduzidos/as a condições de existência subumanas, que apenas sobre-vivem, que a cada dia algo limita-lhes a possibilidade de realizar-se enquanto seres humanos/as, reconhecerem-se como homens e mulheres, como a sua própria maneira de viver-existir. Não devem deixar que calem suas vozes, seus choros, que convenções e padrões sociais, privilégios concentrados a poucos, reprimam-lhes sua ânsia por liberdade, liberdade esta só possível com existência em dignidade de toda uma coletividade. Sim, não se deve deixar a mecanização da vida cotidiana, a reificação dos homens e mulheres (estas caladas em sua voz também ao serem escondidas atrás dos homens e toda uma linguagem em plural no masculino que engloba o feminino) em desejos artificiais de consumo, cale as expressões por um existir mais humano, para isso todas as armas valem: pedras, poesia, noites.

Assim como um bebê não deixa que sua mãe, envergonhada por seu filho chamar a atenção de todos e todas com seu choro, cale seus berros, escancarando o que sente, sua profunda dor, os sujeitos em sua situação de marginalizados devem voltar a seu espírito de recém-nascidos, não temendo pudores que os adultos detem. Nisso também se insere poetas ao não se acanhar diante do que lhe aguça a sua sensibilidade, seus sentimentos.

Bebês, não deixem esses adultos caretas silenciar-te. Resistam, chorem!

André Barreto 3D

REUNI : A volta do jubilamento e possíveis soluções para a “melhora” do Ensino Superior.

“Disciplina a recusa de matrícula nos cursos de graduação oferecidos pela UFPE, modalidade presencial, por decurso de prazo para a conclusão do curso ou pela persistência de insuficiente rendimento escolar”.
“Jubilar é cortar o vínculo do estudante com a UFPE. O Estudante se quiser voltar, terá que fazer outro vestibular”.

O REUNI é um programa do Governo Federal que visa melhorar o Ensino Superior Público. No ano passado, muitos estudantes protestaram contra a sua efetivação, alegando que ao invés de melhorar o ensino, este reduziria o seu nível. Mesmo com os protestos, este está sendo efetivado e, ainda é cedo para dizer se terá um impacto positivo ou negativo para a Universidade.
E onde entra o jubilamento nesta história?

Jubilar é cortar o vinculo do estudante com a instituição de ensino, para tanto, de acordo com o documento redigido pela UFPE, o estudante precisa estar enquadrado nos seguintes requisitos: houver esgotado o prazo máximo estabelecido pela UFPE para a integralização curricular de um dos cursos, ou de uma de suas habilitações, em que o discente se encontre vinculado; obtiver 2 (duas) reprovações por falta, consecutivas ou não, no mesmo componente curricular; obtiver 3 (três) reprovações por nota, consecutivas ou não, no mesmo componente curricular; obtiver reprovação, por falta ou por nota, em todos os componentes curriculares de um semestre letivo; obtiver coeficiente de rendimento escolar inferior a 3 (três), por 2 (dois) semestres, consecutivos ou não, conforme disposto no art. 3o; deixar de realizar a matrícula acadêmica (matrícula em componentes curriculares, trancamento do semestre letivo ou matrícula vínculo) nos prazos previstos no calendário acadêmico da UFPE.

A alegação da instituição para a volta é a de que: a existência, no âmbito da UFPE, de prazos máximos, expressos em semestres letivos, para a integralização dos seus cursos; a necessidade de otimizar o funcionamento dos cursos, com o cumprimento normal de seus prazos pelos estudantes, evitando a retenção de vagas e o custo dela decorrente, em prejuízo do ingresso de novos alunos; o empenho pedagógico para corrigir o baixo rendimento escolar dos estudantes, evitando a frustração da não conclusão ou da conclusão dos cursos nos prazos máximos.

O que ocorre é que existem certos tipos de Estudantes que prejudicam a concretização da proposta da universidade pública, que é o de oferecer ensino gratuito a grande parte da população. Estes são os que ficam trancando constantemente o curso, levando-o como se diz no popular “com a barriga”, existe um outro tipo que reprova várias vezes por falta na maioria das vezes por desleixo, ou outros que por não se importarem com o curso reprovam em várias cadeiras por insuficiência de notas. E, de acordo com o requerimento da UFPE, são estes tipos de Estudantes que a Universidade quer combater. E com isso, abrir estas vagas “ociosas” para o Estudante que quer realmente Estudar. Além lógico, do mais importante, estipular uma regra acadêmica para que seja cumprido um tempo máximo para que o aluno se forme e não fique onerando os cofres públicos.


A intenção de “melhorar” o ensino esconde na verdade grandes paradigmas que não podem ser desprezados, um deles é o do estudante que é também trabalhador e pai de família, fato muito comum em nossa instituição. Se este, por algum motivo, tiver que dar mais atenção à sua família, ou quaisquer outros problemas, este pode reprovar em um semestre, por faltas ou por insuficiência de nota. E de acordo com o requerimento proposto pela UFPE se este: obtiver 2 (duas) reprovações por falta, consecutivas ou não, no mesmo componente curricular ou obtiver 3 (três) reprovações por nota, consecutivas ou não, no mesmo componente curricular, será jubilado.

Para tanto, abro um debate mais amplo, sobre a configuração social que possuímos em nossa universidade. É fato conhecido de todos nós que o Universitário, em sua maioria, principalmente em nossa Faculdade de Direito, é formado por pessoas da classe média e alta e para esse público alvo, que possui família bem constituída e que pode, se quiser, ou não ocorrer catástrofes em sua família, terminar seu curso no tempo normal, talvez esta proposta de volta do jubilamento seja até razoável, para coibir “maus alunos”. Mas, na verdade, o grande enfoque escondido é a exclusão social, debate este que é renegado, ou deixado para depois.

A universidade pública tem que cumprir seu papel, ensino gratuito e de qualidade para todos, mas há muito tempo, ou nunca, este enfoque foi cumprido e com a volta do jubilamento nestes termos, pode ficar ainda mais distante tanto a eficácia do ensino quanto a sua valorização social.

Mas qual o problema, ainda não o percebi? Você deve estar se perguntando. Até agora a proposta se mostra coerente e sua efetivação visa, somente, a otimização do ensino. Porém não é bem isso. Uma das metas do REUNI é aumentar a taxa de conclusão, e o efeito de um aluno jubilado pesa para mais nesse cálculo. Por essas e outras, a Universidade Federal de Pernambuco vem estudando a volta deste procedimento para suas instâncias acadêmicas.

Demonstrando, cada vez mais, que o importante são números: as notas altas e taxa de formandos alta. Mas, em contrapartida, um debate sobre a reforma da grade curricular, que para muitos cursos se encontra obsoleta ou uma discussão sobre os métodos de ensino, é muitas vezes deixada ao relento, sem muito viés de preocupação.
Marcello Borba 1D



Evidências que Incomodam

O tempo. Como se mede o tempo? Afinal, seria ele uma grande idéia abstrata que objetiva primordialmente organizar nossas vidas, ou simplesmente um obstáculo impertinente que insiste em atrapalhar os detalhes prazerosos do cotidiano? Bom, se minha opinião for de validez para o assunto, lhe afirmo que dou mais crédito à segunda opção.
Motivo? Acredite, não é apenas mais uma reflexão sem sentido de um desses calouros que acha o fim do mundo ter que perder quase um semestre inteiro diante de milhares de livros e autores até então desconhecidos e escritos aparentemente em código que provavelmente serão de pouca ou nenhuma utilidade a partir do resto do período acadêmico. Não, imagine. É uma idéia totalmente fundamentada, pois, acredite, esse pensamento não é só meu.
Não tenho como objetivo dizer que o tempo é uma criação inútil, entretanto. Apenas pretendo explicitar o quanto ele costuma ser mal aplicado.
É fato que todos nós, ao entrarmos na Faculdade de Direito do Recife, nos deparamos com os mais diversos tipos de pessoas, idades e personalidades. Simultâneo a isso, passamos a lidar com autores, teorias, dogmas e livros mofados que, segundo aqueles que nos instruem, são a base de toda a nossa carreira acadêmica. Em meio a isso, sofremos diariamente a perda considerável de minutos que nos levam à quase inalcançável cidade universitária para que aprendamos sobre mais pessoas, mais teorias e tenhamos mais aulas sobre assuntos que embora não sejam o foco de nosso curso, dizem serem necessários a nossa formação intelectual. É aí que, diante de todo esse esforço, essa correria diária e esse armazenamento quase impossível de todas essas informações, nos lembramos que nosso curso é, todavia, direito.
E é nessa hora que os pensamentos de Kelsen, as fórmulas sobre oferta e demanda e Aristóteles, somados ao vazio de nossos bolsos causado pelas intermináveis xérox, nos vêm a cabeça e se manifestam em uma pergunta: afinal, por que tudo isso?
E não, isso não é uma pergunta retórica fundamentada na preguiça. É só que, bem, é no Brasil que vivemos, certo? Diante dessa sociedade ainda não-madura e dependente de sistemas alopoiéticos que se apóia em formas de direito alternativo para que se mantenha funcionando, às custas da ilusão de um direito neutro e técnico que se sobressai fundamentalmente da vontade de um judiciário que, por sua vez, a cada dia sofre mais intensamente com o problema da legitimação de si mesmo gerado pela cultura brasileira arraigada pela ideologia de predominância do desrespeito às normas... Enfim, toda aquela história. É, é o “jeitinho”. É então, meu caro estudante de direito, que você se entrega a uma reflexão na qual apenas um minuto lhe é suficiente para que se arrependa de todo o tempo que você perde e tem perdido entre colégios particulares e cursinhos pré-vestibular, fichamentos e tudo o mais...
Afinal, por que tanto tempo perdido, se no futuro o que lhe valerá de fato será a sua agenda telefônica e não seu curriculum vitae? É duro constatar isso no primeiro ano de faculdade e ter que conformar-se a essa rotina desprovida de objetivo prático por mais cinco anos. Contudo, não se deve jamais esquecer que, embora nosso tempo ande mal preenchido ultimamente, nem tudo está perdido. Nunca esqueça de que os colegas de hoje serão o judiciário de amanha, meu caro. Portanto, segue um conselho: um tempo otimizado durante a faculdade de direito vale mais do que qualquer exemplar da “Teoria Pura”. Acredite, aquela fábula que conta que os melhores alunos sempre têm mais chance de serem bem-sucedidos simplesmente esbarra no contexto social brasileiro. Partindo daí, eu acabo por preferir outra máxima, por sinal, muito ouvida por mim ultimamente, afinal, depois de tal análise, não se pode negar que, sob todas as evidências, o mundo é, realmente, dos espertos.

Marília Dantas de França 1N

Contos:
Reflexões Infantis

Parte 1:
A Luz e o Tempo.

Os milhares de brilhos estavam reduzidos a algumas centenas devido às luzes da cidade. Era o que o garoto observava no céu da noite. Era quase que engraçado: as luzes que deveriam revelar estavam ocultando – as estrelas, neste caso. A luz que esconde seria a mesma que revela? Se assim fosse, ela seria como seu pai, que ora acaricia, ora bate. Balançou a cabeça na tentativa de afastar essa analogia.
Estava sentado na cadeira que havia colocado na frente de sua casa. Eram oito horas, mas poucas pessoas circulavam pela rua. Talvez com medo, talvez com sono, talvez cansadas ou simplesmente com preguiça. Qualquer que fosse o motivo daquela situação, pensando bem, era irrelevante para ele, pois, embora gostasse de pensar em tudo, tentava não perder tempo aprofundando-se em coisas triviais. “Tempo”, pensou, “Por que ele corre quando pode simplesmente parar e descansar, tanto a si mesmo quanto a nós, que vivemos sempre de olho no relógio?” Mas o tempo não cansa. Era o que concluíra o garoto olhando para seu relógio de pulso e constatando que já eram nove horas. Pegou a leve cadeira e entrou.
No terraço, onde havia tantas outras cadeiras de plástico, além de uma mesa do mesmo material, surgiu-lhe uma dúvida. Mas, antes que pudesse pensar sobre ela ou mesmo organizar as perguntas, sua mãe o chamou:
- Dormir, Pedrinho!
Olhou para trás, mirando o portão, e lembrou-se que seu pai ainda não havia chegado. Não estava no trabalho, disso tinha certeza, porque ele só trabalhava até as sete e somente até as sete. Não quis pensar sobre isso e seguiu casa adentro.
O garoto acordou com barulhos que pareciam vir da sala. O medo tomou conta dele, um calafrio subiu-lhe a espinha e ele levantou-se de repente. Ligou a luz do quarto e olhou as horas em seu relógio de pulso que estava em cima de sua escrivaninha. Eram três da manhã. Os barulhos haviam cessado; no lugar deles ele pôde ouvir uma frase baixa:
- A gente resolve isso amanhã.
Ouviram-se passos se aproximando do quarto do garoto. Ele enrijeceu de pé, esperando a qualquer hora a porta se abrir. E assim se fez. Ela abriu lentamente e a cabeça de sua mãe apareceu.
- Querido, venha dormir. – disse ela com a voz tão doce e serena que o garoto se tranqüilizou quase instantaneamente. – Venha, desligue a luz que eu vou dormir com você.
Ela entrou e trancou a porta; ele, já mais aliviado, ia desligar a luz, quando viu uma marca vermelha no rosto da mãe. Novamente sentiu um calafrio e seu corpo estremeceu; mas apertou o interruptor e a escuridão tornou a permear o quarto. Deitou na cama junto com sua mãe e sentiu o calor do corpo dela, o que normalmente lhe agradava, mas que, desta vez, o preocupou, pois ela estava quente demais, como se estivesse se agitado, além disso, tanto o coração dele quanto o dela estavam mais acelerados, embora por motivos diferentes. Fechou os olhos tentando voltar a dormir. O sono, contudo, parecia ter se esvaído. Agora os pensamentos invadiram sua mente, expulsando qualquer resquício de sonolência.
Antes, porém, que pudesse pensar, o choro contido de sua mãe confundiu sua mente, misturando raiva do pai, compaixão pela mãe e medo. O que ele, um garoto de apenas dez anos, poderia fazer diante daquela situação? “Nada” pensou; foi a única resposta que pôde encontrar. Entretanto até quando poderia conviver com aquilo, com aquela atitude contraditória do pai, que de dia os amava, mas à noite, confundido pelo veneno dos bares, gritava e batia na esposa? Não sabia. Lembrou-se, então, de uma frase de um filósofo grego: “Só sei que nada sei”. Suspirou e perguntou-se mentalmente: “E por acaso não saber de nada serve para alguma coisa?”.
Continua na próxima edição
Ítalo José da Silva Oliveira 2 M



Humor:
DICIONÁRIO ANTI-JURÍDICO
A cada edição virá um pouco do dicionário para você colecionar. Vá até a banca mais próxima, seja um léxico você também.

Hermenêutica: É mais um ramo da neurociência, só que sem o cérebro. Também é muito usada para entender coisas das coisas.
Habeas Corpus: na verdade, foi Da Vinci que usou este termo pela primeira vez quando dissecava cadáveres escondido da inquisição. Ele gritava: “Habeas Corpus”. E o tribunal do Santo Oficio com medo, jurava que ele estava protegido pela lei.
Extorsão: uma torção que não existe mais, se você foi curado por meios lícitos ( pouco provável) a lei te protege, se foi curado por meios ilícitos( muito provável) a lei não faz nada.
Cognome: veio da Grécia antiga junto com a matemática. Antes era lognome, evolui para cognome e suas derivações são: fognome e gofnome.
Pudor: foi perdido lá no paraíso, na época de Adão e Eva. A falta de pudor é uma marca do Direito e se confunde, por coincidência, com a história do homem.
Jusnaturalismo: é quando a justiça é natural. Tu me bates, eu te bato. Tu xinga a minha mãe, eu xingo a tua.
Juspositivismo: é a mais sacana que o jusnaturalismo. Sua origem remonta a do 1° homem que decidiu ser o intermeador deste tipo de disputa. Acabou gostando e até hoje esta profissão é paga para assistir a briga dos outros. E ainda dizem que isso é direito.
Coação: já dizia Newton, A toda ação resulta numa reação. Só que Newton, burro que era, não conseguiu perceber a coação que é nada mais, nada menos que uma ação coagida a ocorrer. A lei seria assim enunciada: Toda coação resulta numa coreação.
Credor: esta palavra é uma mistura de Latim+ grego+ susto. Quando alguém toma um susto grita: credo. Se esta pessoa que tomou um susto é um devedor grita enfaticamente: CREDOR!CREDOR!
Roubo: palavra chula, muito semelhante a palavrões de baixo calão. Não deve ser dita com o risco de te acharem muito burro. O correto, principalmente para graduados é: desvio, expropriação, caixa 2, notas frias....

Horóscopo:
Vai dar tudo certo para todo mundo. De áries à virgem o bom é usar verde-claro. De virgem em diante, verde-escuro, ou verde limão.




Contribuições:
Tobias Barreto e seu latinismo.
Castro Alves e suas poesias
Hermilo Borba filho e suas correções gramaticais.
Joaquim Nabuco e suas idéias abolicionistas.
Rui Barbosa e seus discursos
Demócrito de Souza Filho e seu DA.


Membros do jornal:

André Barreto 3N; Andrezza Aquino 3N; Ítalo Lopes 1M; Ítalo oliveira 2M; Juliana Serretti 1N;
Marcos Casimiro 3N; Marcello Borba 1D; Marilia Dantas 1N.

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