quarta-feira, 18 de março de 2009

entrevista com Manuel Bandeira


Repórter: olá bandeira, como vai?
Bandeira: vou-me embora pra pasárgada!
R: calma, nem comecei a entrevista.
B: mas vou-me embora pra pasárgada, pois lá sou amigo do rei...
R: eu sei, eu sei. Mas explique-me a sua poesia.
B: eu faço versos como quem morre.
R: hum, profundo. Existe algo que ao longo de sua vida você não pôde fazer?
B: bem... Quando eu tinha seis anos não pude ver o fim da festa de são João porque adormeci.
R: por que você gosta tanto de pasárgada?
B: lá eu tenho a mulher que quero na cama que escolherei.
R: o que fez você se chatear com o Brasil?
B: estou farto do lirismo comedido. Do lirismo bem comportado, do lirismo funcionário público com livro de ponto.
R: e como você avalia a sua vida?
B: a vida inteira que poderia ter sido e não foi.
R: e o que você acha do Brasil atual?
B: febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos.
R: e você foi namorador? Ou só ficava na poesia?
B: beijo pouco, falo menos ainda. Mas invento palavras que traduzem a ternura mais funda.
R: e o mundo: guerras, fome, morte... Qual seria a solução para tudo isso?
B: a solução é dançar um tango argentino.
R: sobre a juventude de hoje qual a sua análise.
B: enfunando os papos, saem da penumbra aos pulos, os sapos...
R: e o recife. Como você vê o recife?
B: recife morto, recife bom, recife brasileiro como a casa de meu avô.
R: e aquela cena de cicareli na praia, o que você acha?
B: foi o meu 1°alumbramento.
R: alguma última frase que deseja falar?
B: finalmente vou-me embora pra pasárgada. Aqui não sou feliz. Em pasárgada tem tudo é outra civilização.

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