Que abuso, querem devastar minha intimidade. Pegaram meus escritos, meus
rascunhos e olharam atentamente como desnudando meu ser. Senti-me como uma
mulher sendo devorada por olhares vorazes de homens famintos. Senti-me
impotente, sem roupa e invadido na íntima privacidade. Meus textos são para
meus leitores e não para meus amigos e parentes. Amigos e parentes me conhecem,
me desnudam no dia-a-dia, o único lugar de libertação que possuo, o único lugar
que posso metamorfosear as pessoas de meu convívio e homenageá-las ou
chingá-las, não sei, tudo depende de meu humor, são nos meus textos. Meus!
Não sei quem deu tal permissão, invadir meu quarto como um posseiro,
vasculhar meus livros e cadernos como detetive e desfolhar meus textos, meus
textos como se fossem seus. Absurdo, no mínimo desrespeitoso e apavorante.
Tanto trabalho que tenho para escrever um hora por dia, vejam, dedico um hora
de um dia de 24 horas para fazer o que mais gosto. As outras 23 são um
martírio, uma devassidão imensa e surreal, fico oco, recolhendo informações
para colocar naquele papel branco e ameaçador.
Medo? Tenho muitos, no início tive medo do desconhecido, atualmente perco
uns e vou ganhando mais. O que tenho mais medo agora, por exemplo, é que me
desnudem novamente e eu fique desamparado sem saber a quem pedir ajuda. Estou
completamente fraco e sozinho.
Quando estamos indo atrás de palavras para colocar no papel, não sabemos
o que vai sair dali, talvez o que escrevi nem eu mesmo queira publicar. Mas é
meu, eu decido o que fazer com aquele aborto literário.
Imaginem, me desnudar assim... Ainda sinto o coração tremendo e o suor
frio descendo pela espinha quando a vi sentada na cama, olhos curiosos e boca
entreaberta com admiração por ter descoberto meu segredo. Todos sabem que
escrevo, mas não sabem como chego no que escrevo. Nossa, esta imagem ficará
muito tempo em mim, um trauma, um estupro.
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