quinta-feira, 28 de março de 2013

Cartas de amor em época de sms




- oi amor, vc ta bem?

3 minutos depois...

- oi bebe, to otimo,e vc ta boa?

Alguns segundos depois...

- estou otima. Pq vc demorou a me responder?

um minuto depois...

- amor, to no trampo, fica complicado ficar no sms.

alguns segundos depois...

-mas nem pra me dar atenção? nossa, como vc ta frio....

cinco minutos depois...

- desculpe, mas no trabalho, meu chefe ta na minha cola, em casa falamos mais.

alguns segundos depois...

-ok, quando tiver tempo para mim a gente se fala.

tres horas depois...

-oi bebe, largou?

Dois minutos depois...

-ainda não, amorzinho. Largo em uma hora

Alguns segundos depois...

-ok, vou me recolher a minha insignificância.

Um minuto depois...

-oh amorrrr.

Uma hora depois...

- larguei, bebe, vc ta com saudade?

Alguns segundos depois...

- amorrr, to sim morrendo muito muito muito mesmo.

Alguns segundos depois....

-to cansado, pense numa pessoa com saudade tb, desde ontem ñ te vejo.

Alguns segundos depois...

-vem me vê hj, essa ausencia ta lasca.

Alguns segundos depois...

-vou comer em casa e depois eu vou ai, ta?

Alguns segundos depois...

-vem mesmo, vamos nos alimentar.

Uma hora depois...

-to em casa, jaja chego ai.

Alguns segundos depois...

-ebaaa, to esperando.

Alguns segundos depois...

-tava lendo no busao, antigamente os namorados se comunicavam por cartas que levavam dois dias para chegar, imagina?

Alguns segundos depois...

-não imagino, ñ sei como conseguiam, aff e muiiito tempo. Com um minutinho fico pra morrer de curiosidade

Alguns segundos depois...

-é, temos sorte.

Alguns segundos depois...

-sorte tem vc de me ter

Obs: as palavras não levaram acentuação de propósito.
Obs2: não há erros de português, o texto está perfeito assim. 

domingo, 24 de março de 2013

Estupro



Que abuso, querem devastar minha intimidade. Pegaram meus escritos, meus rascunhos e olharam atentamente como desnudando meu ser. Senti-me como uma mulher sendo devorada por olhares vorazes de homens famintos. Senti-me impotente, sem roupa e invadido na íntima privacidade. Meus textos são para meus leitores e não para meus amigos e parentes. Amigos e parentes me conhecem, me desnudam no dia-a-dia, o único lugar de libertação que possuo, o único lugar que posso metamorfosear as pessoas de meu convívio e homenageá-las ou chingá-las, não sei, tudo depende de meu humor, são nos meus textos. Meus!
Não sei quem deu tal permissão, invadir meu quarto como um posseiro, vasculhar meus livros e cadernos como detetive e desfolhar meus textos, meus textos como se fossem seus. Absurdo, no mínimo desrespeitoso e apavorante. Tanto trabalho que tenho para escrever um hora por dia, vejam, dedico um hora de um dia de 24 horas para fazer o que mais gosto. As outras 23 são um martírio, uma devassidão imensa e surreal, fico oco, recolhendo informações para colocar naquele papel branco e ameaçador.
Medo? Tenho muitos, no início tive medo do desconhecido, atualmente perco uns e vou ganhando mais. O que tenho mais medo agora, por exemplo, é que me desnudem novamente e eu fique desamparado sem saber a quem pedir ajuda. Estou completamente fraco e sozinho.
Quando estamos indo atrás de palavras para colocar no papel, não sabemos o que vai sair dali, talvez o que escrevi nem eu mesmo queira publicar. Mas é meu, eu decido o que fazer com aquele aborto literário.
Imaginem, me desnudar assim... Ainda sinto o coração tremendo e o suor frio descendo pela espinha quando a vi sentada na cama, olhos curiosos e boca entreaberta com admiração por ter descoberto meu segredo. Todos sabem que escrevo, mas não sabem como chego no que escrevo. Nossa, esta imagem ficará muito tempo em mim, um trauma, um estupro.

terça-feira, 12 de março de 2013

Exaltação do Recife nº 0




Exalto o Recife fedorento e esquecido das prostitutas e dos cabarés.
O Recife feio, que todos querem fingir que não existe, mas subexiste.
Exalto o Recife dos engarrafamentos e da pouca mobilidade
Que todos protestam para resolver e ninguém resolve.

Exalto o Recife do calor infernal, que de rio tem o Capibaribe que já virou canal. .
Exalto o recife dos camelos, dos ambulantes e dos feirantes
Que vendem produtos de baixa qualidade
Nas vielas e becos históricos.

Exalto o Recife escondido debaixo das Pontes
Esquecido nas páginas policiais
O Recife bom, o Recife velho é apenas uma metáfora
Nas fotografias e mentes dos Recifenses.

Exalto o Recife das grandes construtoras que compram os casarões
E constroem edifícios modernos, apagando a história

Exalto o Recife que ninguém quer que exista e todos querem
Que não viva.
Mas ele pulsa, ele fala, ele sobrevive e procria
Nas ruas e becos, nas falas e gestos
Nas páginas dos jornais
Nas lamas e nos quintais.