- Ela sentou-se na cadeira, olhou para os lados e não tinha ninguém notando a sua presença. Ajeitou seus cabelos que cortou no estilo moderno e acendeu seu cigarro, fumaçou para cima.
De repente ela sentiu como se o mundo notasse toda a sua presença, como se fosse a mais desejada de todas da cidade. Fumou ali seu cigarro, pediu um drink e esperava aflita pela pessoa que marcara e ainda não tinha chegado.
Não olhava para ninguém, já tinha olhado antes e não vira ninguém interessante, todos comuns com idéias comuns, para ela era sempre assim.
Sentenciou seu dia, sentenciou suas idéias, nada faria mudar a conclusão a que chegara das pessoas ali.
O homem chegou, meio nervoso, meio preocupado com o atraso, não fazia problema, os dois chegaram atrasados.
Por um momento os olhares se cruzaram e as dúvidas pairaram, a admiração do rapaz pela moça tão moderna o fez imaginar o quão enobrecido seria seu espírito se convivesse com ela. Imaginou que daquela cabeça sairiam grandes idéias, bons pensamentos, novas formas de encarar a vida e sentir o que o cercava. Ela fumou um cigarro e depois acendeu outro.
- O que queres?
- Eu? Uma cerveja ta bom.
- Uma cerveja garçom.
- Adorei seu corte de cabelo, é novo?
-É sim, queria dar uma renovada no visual, queria me sentir mais leve. Sabe, odeio me sentir reprimida e sufocada, jogo tudo pra longe quando fico assim.
- É uma porcaria essa vida em que os outros nos sufocam. Precisamos viver cada dia sempre.
- É, sabe, nossos pais não sabem o que é isso, pensam que sabem tudo mas não sabem nada, estão atrasados, com idéias atrasadas, não sabem se sentir livres. Viveram e vivem numa prisão e querem que sejamos assim também.
O papo fluía bem sempre que a garota trazia uma idéia nova, ela de fato, parecia ter boas idéias na cabeça e um espírito libertário, sem medos, sem frescuras, sem convencionalismos.
O rapaz era apenas mais um sujeito comum, tanto quanto ela? Jovens são assim, botam para fora o que não tem dentro de si e sugam para dentro tudo o que vem de fora, são incapazes de olhar para dentro e apreciar seus sentimentos. São jovens, tudo é fluido, tudo é rápido, tudo é vida.
Não podemos fazer juízo de valor, mas a vida carrega dentro de si a mais profunda qualidade que é a de presentear todo tipo de ser, seja ele bom, ruim, forte ou fraco.
O encontro de hoje foi marcado pela internet, ficaram umas vezes por ai, show e cinema, conversam horas pela internet e telefone e agora marcaram um bar para trocar umas idéias, tomar umas cervejas e sentir o calor de suas liberdades.
Para o garoto valeria a pena terminar a noite na cama, apenas, isso pagaria suas cervejas, seu dia, seu perfume e sua roupa nova que trouxe. Para a garota gozar seria o mínimo que poderia fazer hoje, era livre e disposta, se vier veio, se não vier não veio. A vida é assim.
Ambos estão com vontade de se comer, mas não entregam o jogo de bandeja, carregam dentro de si um “q” de valor, ou princípio de que não se chama ninguém para cama de forma direta, “ei vamos transar”. Não é assim, nem pode, tem que pintar um clima, tem que ter um papo, tem que ter algo que faça o espírito ficar livre. Isso nossos avós aprenderam com seus avós.
O papo que começou tímido fluiu bem, embora a idéia dos dois seja reduzida a criticar a modernidade e a repressão que sofrem quanto jovens, o papo para ambos é a melhor coisa que podem repassar.
Como numa previsibilidade tremenda, ambos sabiam dizer para o outro o que o outro queria escutar, ou pretendia escutar. Não havia nada repreendendo eles, nada. Falaram, mas desta conversa que tiveram não havia nada além de gírias, palavrões e criticas. O bom e
previsível estilo de uma época, o bom e verdadeiro ser transfigurado num outro ser que a todos agrada. Desde a roupa, ao estilo do cabelo, ao cigarro, as palavras e as idéias, quais idéias?
A cerveja dá coragem a ambos de sair dali e procurar um novo lugar, um lugar a sós e onde podem resolver o que procuram. Fazem sexo frenéticamente e liberalmente, como cabe a um jovem. Gozam, cansam e dormem.
Acordam no outro dia e sentem que a vida só é boa se for vivida. Vivem a vida e são felizes.
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