segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Um toque de poesia.


 
Ela sonhava em viver no céu
O seu céu é lindo, não tem gente morta
Só gente viva, mas é tão belo e tão real
Que não parece ser deste mundo
No seu céu todo mundo é feliz!

Ela que sempre sonhara em ter alguém
Do seu lado, alguém que lhe desse atenção
Flores e poesia, ela que sempre fora
Uma bela sozinha, uma flor no deserto.

Sonhava e como sonhava em ter que
Não mais sofrer por causa da maldade
E do desprezo humanos. A vingança e o ódio
Não faziam parte de seu vocabulário
Mas ela sofria, sempre sofria

Ela não tinha medo do que os outros iam pensar
Tinha medo de não ser feliz, tinha medo da solidão
Tinha medo de ser esquecida.
Do resto não, ela é sempre a única e verdadeira
Dona de si.

No mundo que ela imaginou não há heróis e fadas guinomos ou duendes.
Ela imaginou um mundo belo, porém real.
Um mundo de seres humanos, mas de seres humanos que ela podia confiar

O que ela mais queria desse seu mundo era deitar seu ombro numa tarde de domingo, com o sol escaldante no alto, naquele silêncio a beira da praia, com pequenas nuvens no céu, o vento soprando de leve, poucas pessoas passando na beira da praia...
Ela e ele ali, apreciando o por do sol, num segundo, em cada segundo, fazendo de suas vidas a felicidade das pequenas coisas impossíveis

Ela sonhava, ela quer, ela terá.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

O encontro


 - Ela sentou-se na cadeira, olhou para os lados e não tinha ninguém notando a sua presença. Ajeitou seus cabelos que cortou no estilo moderno e acendeu seu cigarro, fumaçou para cima.
De repente ela sentiu como se o mundo notasse toda a sua presença, como se fosse a mais desejada de todas da cidade. Fumou ali seu cigarro, pediu um drink e esperava aflita pela pessoa que marcara e ainda não tinha chegado.
Não olhava para ninguém, já tinha olhado antes e não vira ninguém interessante, todos comuns com idéias comuns, para ela era sempre assim.
Sentenciou seu dia, sentenciou suas idéias, nada faria mudar a conclusão a que chegara das pessoas ali.
O homem chegou, meio nervoso, meio preocupado com o atraso, não fazia problema, os dois chegaram atrasados.

Por um momento os olhares se cruzaram e as dúvidas pairaram, a admiração do rapaz pela moça tão moderna o fez imaginar o quão enobrecido seria seu espírito se convivesse com ela. Imaginou que daquela cabeça sairiam grandes idéias, bons pensamentos, novas formas de encarar a vida e sentir o que o cercava. Ela fumou um cigarro e depois acendeu outro.
- O que queres?
- Eu? Uma cerveja ta bom.
- Uma cerveja garçom.
- Adorei seu corte de cabelo, é novo?




-É sim, queria dar uma renovada no visual, queria me sentir mais leve. Sabe, odeio me sentir reprimida e sufocada, jogo tudo pra longe quando fico assim.
- É uma porcaria essa vida em que os outros nos sufocam. Precisamos viver cada dia sempre.
- É, sabe, nossos pais não sabem o que é isso, pensam que sabem tudo mas não sabem nada, estão atrasados, com idéias atrasadas, não sabem se sentir livres. Viveram e vivem numa prisão e querem que sejamos assim também.

O papo fluía bem sempre que a garota trazia uma idéia nova, ela de fato, parecia ter boas idéias na cabeça e um espírito libertário, sem medos, sem frescuras, sem convencionalismos.

O rapaz era apenas mais um sujeito comum, tanto quanto ela? Jovens são assim, botam para fora o que não tem dentro de si e sugam para dentro tudo o que vem de fora, são incapazes de olhar para dentro e apreciar seus sentimentos. São jovens, tudo é fluido, tudo é rápido, tudo é vida.
Não podemos fazer juízo de valor, mas a vida carrega dentro de si a mais profunda qualidade que é a de presentear todo tipo de ser, seja ele bom, ruim, forte ou fraco.







O encontro de hoje foi marcado pela internet, ficaram umas vezes por ai, show e cinema, conversam horas pela internet e telefone e agora marcaram um bar para trocar umas idéias, tomar umas cervejas e sentir o calor de suas liberdades.

Para o garoto valeria a pena terminar a noite na cama, apenas, isso pagaria suas cervejas, seu dia, seu perfume e sua roupa nova que trouxe. Para a garota gozar seria o mínimo que poderia fazer hoje, era livre e disposta, se vier veio, se não vier não veio. A vida é assim.

Ambos estão com vontade de se comer, mas não entregam o jogo de bandeja, carregam dentro de si um “q” de valor, ou princípio de que não se chama ninguém para cama de forma direta, “ei vamos transar”. Não é assim, nem pode, tem que pintar um clima, tem que ter um papo, tem que ter algo que faça o espírito ficar livre. Isso nossos avós aprenderam com seus avós.

O papo que começou tímido fluiu bem, embora a idéia dos dois seja reduzida a criticar a modernidade e a repressão que sofrem quanto jovens, o papo para ambos é a melhor coisa que podem repassar.

Como numa previsibilidade tremenda, ambos sabiam dizer para o outro o que o outro queria escutar, ou pretendia escutar. Não havia nada repreendendo eles, nada. Falaram, mas desta conversa que tiveram não havia nada além de gírias, palavrões e criticas. O bom e


previsível estilo de uma época, o bom e verdadeiro ser transfigurado num outro ser que a todos agrada. Desde a roupa, ao estilo do cabelo, ao cigarro, as palavras e as idéias, quais idéias?

A cerveja dá coragem a ambos de sair dali e procurar um novo lugar, um lugar a sós e onde podem resolver o que procuram. Fazem sexo frenéticamente e liberalmente, como cabe a um jovem. Gozam, cansam e dormem.

Acordam no outro dia e sentem que a vida só é boa se for vivida. Vivem a vida e são felizes.


segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Domingo dia dos pais


Com a singeleza de um belo despertar, a manhã começou bem, era domingo. Um belo domingo dia dos pais. Lá estava aquele sujeito barbudo e gordo. Sentado como sempre vendo televisão, aquele olhar centrado de alguém que assiste algo porém está pouco preocupado com o resultado. Dizem que parece comigo, melhor, pareço com ele, mas não tenho certeza. O externo pode ser, mas e a alma? Como suportar todo esse silêncio no qual ele vive?
                      Quem dera ter forças para quebrar o gelo, a primeira palavra do dia. Não, ela não é bom dia. Nosso bom dia são olhares, são com outras palavras.
Preparo meu café sem dizer e penso no presente, dessa vez compramos algo além de meias, cuecas e camisas, foi um presente especial. Não sei por qual motivo, mas olhar para ele me deixa meio inseguro, meio indeciso. Talvez eu não saiba ser filho de um pai. Só sei que passaram duas horas e eu lá na sala. Minha mãe tentou uma conversa neste tempo, mas foram poucas palavras. A boa parte delas foi sobre o jogo de futebol que estava passando.
Ele adora jogos, não importa o time, se deixar fica o dia inteiro vendo televisão. Mas vendo o que? Dia de domingo a programação era bem limitada, só ele sabia. Talvez ele visse o mundo e nós?
Minha mãe e eu nos cansamos e resolvemos levantar, fomos pegar os presentes. Estava muito contente indo buscar o livro. Neste momento não existem palavras, apenas ações mecânicas. Nossas emoções existem mas não saem, qualquer frase, qualquer fraquejo, não importa, eles estampam na situação e criam situações imprevisíveis. Nessas horas o recomendável é nada de palavras, apenas ações, mecânicas ações, tímidas ações. Cheguei na sala novamente e levei em minhas mãos o pacote. Como já disse, não há palavras, apenas um grunhido mal entendido: “feliz dia dos pais”, uma resposta “obrigado”, tudo é quase imperceptível. Depois há um tímido abraço, entrego-lhe o pacote  mamãe diz:
- Faltou o beijo de seu pai.
Nesta hora o mundo vai e o tímido beijo nada mais é que uma demonstração de afeto, porém um tímido afeto. Medo, há medo. De quê? Não há resposta. Nessas horas vejo que não nos conhecemos devidamente. Um abraço, um beijo e um mimo de amor são tão torturantes, são expressões de nossos seres que vivem num abismo conjugal e entre eles há apenas dúvidas, nenhuma certeza.
A figura do pai é assim? A figura do filho é essa? Não sei, só sei que convivemos, saudamos e seguimos em frente. Ele abre o embrulho, neste momento meus olhos enchem de lágrimas mas não caem. Eu queria que caíssem, mas não deixo. A sua cara é a de sempre, porém dessa vez vejo um brilho em seus olhos, ele agradece e começa a folhear o livro que foi um marco em sua adolescência
Quantos anos passam nestes minutos? Vou recuperando meu estado e volto ao meu quarto para olhar o nada e lá só consigo figurar sua reação ao abrir o presente. O dia passou e junto com ele a sua magia e inquietude. Mas este dia sempre esteve e sempre estará em minha memória, nossos atos humanos.








Deste dia guardei a lembrança de um pai, foi o último dia domingo dos pais juntos. Não chorei, não fui nada além de mim, nem ele. Foi nosso último domingo, foi o último domingo que acordei cedo, peguei o presente, senti a barba e me senti encabulado na presença de alguém tão íntimo.
Hoje sou pai, lembro e lembrarei eternamente daquele dia, aquele simples dia que para é eterno, imutável. Poderia ter feito mais? Não! A resposta que tenho do livro que dei. Encontra-se em cima da mesa, aberto, com as marcas de suas digitais, com marcas de uma história, com lembranças de um passado.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011