segunda-feira, 1 de março de 2010

Falar de alienação, falar de culpados?


Falamos de alienação como algo repulsivo, apontamos para supostos alienados como quem aponta, em tempos medievais, para leprosos que transitavam a rua.

O cenário de nossa sociedade é de privilegiados e desprivilegiados? Privilegiado é quem não é alienado, e desprivilegiado quem é.
Mas o conceito de alienação nem é tão fácil de se explicar, tão pouco de qualificar. Alienados são o que afinal?

Quem tem cultura argumenta que seu gosto musical é peculiar e excessivamente bom, às vezes, até, exclusivo seu. Apreciar Beethoven, Borges, Picasso, Glauber Rocha, dão status, e acima de tudo uma diferenciação cultural entre você que conhece, aprecia e tem contato com estas “fontes culturais” e aqueles que não tem. Se uma pessoa pergunta: terra em transe é bom né? A pessoa responde: “não sei;” você logo a qualifica de sem cultura.
Porque a grande peculiaridade de nossa sociedade complexa é que existem diversos tipo de música, diversos tipo leitura e diversos tipo de se apreciar, ou não, uma obra de arte. Quem não tem acesso a isso tudo é realmente alienado?

Há um outro tipo de alienação que é, um pouco, contrário a alienação de cima. Que não é alienado político tem pena, e não repulsa de quem é alienado. Geralmente pessoas pobres, que não tiveram estudo, e vivem em condições precárias, passam por este tipo de alienação. Pela vida que levaram e levam são incapazes de perceber e mudar sua situação. Não é todo caso, mas a maioria. Os não alienados fazem um trabalho de campo, indo as comunidades para levar um pouco do que sabem. Antes víamos isso com os sindicatos tentado organizar os trabalhadores de sua situação de explorados. A raiva surge é de pessoas de poder econômico bom e que podem ter consciência política e não tem. Simplesmente se entregam ao mundo como ele posto e reproduzem um sistema opressor que simplesmente esmaga a classe mais pobre e não oferece oportunidades. É algo mais complexo de se perceber, tanto pra quem é “o suposto alienado, tanto para quem não se diz alienado...”

Mas a pessoa tem culpa de ser alienada?
Como cobrar de um trabalhador que trabalha 8, 9 horas por dia, que chega em cansado, acabado e humilhado do serviço, e ainda mais, que este procure se informar, procure saber das coisas? A grande maioria quer descansar, ver algum programa que o faça rir e esquecer seu dia difícil. É paradoxal e até complicado querer que eles por si sós adquiram uma força da qual eles não podem ter noção que tem. Vinicius descrevia em seu poema o operário em construção como se dá o processo de conscientização. O operário é construído aos poucos, moldado.
Não só o dia difícil, eu diria, como o causador de alienação mas os próprios meios de comunicação contribuem para entreter o povo e o manter longe de assuntos que os incitem ou conscientizem. Uma engrenagem que não para, e não irá parar.

Quem é o culpado? O trabalhador? Não!

2 comentários:

  1. Eduardo Constantino

    bom texto!

    vc tocou no tema da mudança de situação. De fato, realmente existe uma certa inércia... deixar as coisas como estão é mais simples, ate pq "é mais fácil"(não precisa suar a mais) e "agente se acostumou assim"(no sentido do hábito, repetição). A forma de organização social burocratizada e todas os seus corolários, já se sabe, vem provocando a domesticação do tipo homem...ignmorara-se o próprio homem, vida monótona, previsíbilidade, segurança de mais, e a depender das ontologias ocidentais...

    Mas assim como a ponte da vida, a água insiste em passar

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  2. Quem é o culpado? O trabalhador? SIM e Também!
    Não concordo em passar a mão na cabeça e dizer que as pessoas, "coitadinhas", são meras vítimas. Afinal tb dá para se divertir com algo que preste.
    Acho que hoje em dia a alienação é uma questão de escolha! Exceto em casos que a pessoa se encontre numa situação muito miserável (pobres no sertão sem meios de comunicação, mendigos...).
    Veja, por exemplo, aquele comercial da praia limpa. Um dia desses estava vendo TV e vi o comercial. Logo comecei a pensar no absurdo de se gastar com uma propaganda para dizer às pessoas "seres racionais" que NÃO SE DEVE JOGAR LIXO NAS PRAIAS. E este comercial passa em todos os intervalos das programações mais apreciadas pela "massa". Mesmo assim: eu e Alexandre, ontem, estávamos em Boa Viagem. E, na hora, vários varredores estavam catando pás e mais pás de lixo da praia!!! Pq o trabalhador que passa nove horas do dia num trabalho, pega um engarrafamento infernal, vê a Globo e, conseqüentemente, a propaganda e que certamente teve aula de Estudos Sociais. Não jogou o lixo no saquinho!!!! As pessoas sabem! Estão passadas de saber que aquilo é errado. E pq não agiu certo? Pq têm preguiça de levantar a retaguarda da cadeira e se dirigir a um lixeiro ou levar um saquinho para depositar o lixo. É realmente! Seria um esforço muito grande para este POBRE operário que foi passar o domingo na praia com sua família!!!

    Abraço!

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