Escrever pode parecer um ato de libertação, porém o escritor é um
prisioneiro. Enquanto ele pensa que está livre botando para fora aquilo tudo
que está entalado, engasgado ou preso que quer sair e ganhar forma no papel,
ele está cada vez mais preso à procura da perfeição.
Quando começa a escrever ele se alivia no início e no fim. No início
porque está conseguindo botar no papel aquilo que o atormenta. No fim, se
alivia porque finalmente concluiu o texto.
O meio do texto é só tortura, é pesadelo, é suor, trabalho, sacrifício,
morte, vida, vida e morte. Escolher palavras não é fácil, até porque elas não são
presas fáceis, elas lutam paa não sair, para não ganhar corpo e viverem longe
de seu dono. Enquanto o escritor sufoca porque as palavras não querem sair dele
e desengasgar a sua respiração, ele pestaneja, chora, delira e desiste várias
vezes e volta outras várias para o famigerado trabalho.
Aqueles que dizem se libertarem escrevendo, só pensam no fim do texto, o
meio fazem questão de não lembrar. As palavras torturam. Nenhuma liberdade vem
sem luta.
Mas nem sempre o fim é o fim. Dez anos após ter escrito aquele texto o
escritor volta a lê-lo, acha bobagem, encontra erros e sente vontade de rasgá-lo,
enterrá-lo e sente-se envergonhado pelo que produziu. O texto volta a torturá-lo.
Ele não pode fazer nada mais. O texto vive no coração das pessoas, sua vergonha
de hoje é o mote de muitos.
O escritor negará seu texto bem mais que três vezes, dirá que hoje
escreveria diferente. O texto seria melhor, não sairia assim jamais.
Um texto nunca termina, por algum momento o escritor pode achar que
concluiu, mas basta os anos passarem que ele verá todos os textos como
rascunho, lixo e como um traço mal escrito de sua alma